sábado, 3 de outubro de 2009

Olhos que [não] podem ver

E a escuridão tapou novamente meus olhos.
É tão assustadora a ideia de não ver onde estou que fico apavorado.Eu sinto medo daquilo que não vejo.É como se meus olhos fossem meu escudo e pudessem me proteger de tudo, ou pelo menos daquilo que enxergo.
A sensação de não conseguir ver a mim mesmo me causa um pavor tremendo e imaginar não saber como alguém é me estremesse por dentro.
Eu sou vítima desse pesadelo que me faz refém e que me faz chorar feito criança.
Já disseram que "os olhos são a janela da alma", ou algo assim, e isso me faz pensar o que são dos cegos.Será que eles são gente?Será que eles sentem?O que será de alguém que não sabe como são suas mãos ou de quão belo sorriso tem? Eles devem ser infelizes por não conhecerem as belezas do mundo, por não saberem quão belo é o céu e de como brilha intensamente o sol.
Mas...eles também não podem ver uma criança pedindo comida nas ruas, nem podem ver mortes e brigas.Eles não conhecem a cor do sangue e não sabem como são as guerras, porque simplesmente não podem ver.Eles não sabem como o mundo é desigual e não são preconceituosos.Não são racistas porque para eles não existem cores diferentes, e isso me faz pensar que eles não são inferiores a mim que vejo tudo isso e um dia desejaria ser cego para nunca conhecer "o mundo colorido de vermelho" e de cores que me amedrontam.
Eu poderia ver infinitas cores, só minhas, só aquelas que gostaria realmente de ver.Porque posso exergar todas elas, ou nenhuma ao mesmo tempo, basta eu apenas querer.Então eu mudo aquela minha antiga ideia de que "os olhos são a janela da alma" e passo à acreditar que  o pensamento é a mais lúcida e verdadeira visão que podemos ter - que eu posso ter, basta apenas acreditar naquilo que  desejo ver, e um dia eu verei.Nem que seja só no meu pensamento e com os olhos fechados.


*O texto sofreu algumas pequenas modificações sem alterar o contexto.